sábado, 15 de janeiro de 2011

Transição



Quando pedi para alguém fazer este blog pensei não somente em divulgar minhas bonecas, novo ofício que Deus me inspirou, mas também homenagear pessoas especiais que trilham comigo o caminho desta vida.
O tempo foi passando e fui percebendo que minha obra não estava completa, faltava algo. Então, numa consulta com minha psiquiatra, Dra. Maria Virgínia, por sua sugestão coloco um assunto tantas vezes oculto e temeroso, que se chama TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO.
Infelizmente estou nele da cabeça aos pés.
Ainda na II Guerra Mundial surgiu o interesse pelas manifestações clínicas deste transtorno, naquela época, conhecido como ‘neurose de guerra’, que hoje ressurge nas grandes cidades como uma resposta às pessoas que sofrem e são submetidas a tantas agressões físicas e principalmente psicológicas de nossos ambientes e sociedade.
Penso que esta doença exista desde que o homem existe. Sempre esteve presente em algum indivíduo, ou até grupos. Quem passou por tal transtorno sabe do que estou falando.
Ele pode ocorrer em qualquer momento de nossas vidas e vai estar ligado a ela para sempre.
Embora algumas pessoas possuam maior capacidade para enfrentar tal situação e conseguem superar, quando confrontadas em meio a um estresse traumático, outras, e tantas, igual a mim, quebram o vínculo com a rotina de seus dias, de suas vidas dentro da normalidade. O sentir e o agir tornar-se-ão confusos.
Este transtorno está ligado ao pânico e a ansiedade, generalizados
Difícil conviver com tantos empecilhos dentro de nós mesmos.
Quando me sinto ameaçada, recuo, não por covardia, mas para me proteger, é meu pós-traumático quem fala mais alto, está ali presente, como um aviso, como se eu fosse passar por algo semelhante, aquilo que desencadeou tudo isso. O passado volta do meu subconsciente, trazendo o que tento esquecer...
Alguns de meus sintomas:
- Sensação de desmaiar, que estou enlouquecendo, suores e perda de forças das pernas;
- Sintomas de labirintite;
- Isolamento social;
- Sentir que estou vivendo os mesmos problemas, a mesma doença, um pavor de que os exames (de rotina) não estejam normais...
- Uma fraqueza em todo organismo, e outros sintomas que vem à cabeça como num transe, e que pode virar realidade.
O mundo passa a ser inseguro e cheio de ameaças, onde desconfio de tudo, numa insegurança tal, onde minha autoestima fica totalmente abalada e desacreditada por mim mesma.
Fico a pensar o que se passa na vida das pessoas, que como eu, também passam por situações semelhantes, nem todas têm oportunidade de um acompanhamento, nem profissional, nem familiar...
Todos os dias, a cada minuto, acontecem tragédias, fazendo com que mais e mais pessoas sofram este estresse pós-traumático.
Fica aqui meu recado: nunca perder as esperanças, sempre haverá ajuda, um profissional, um familiar, um amigo, um ombro... Mas acredito que a família ainda é o melhor apoio, e pode ser a ‘bengala’ que ajudará a chegar até um profissional da área.
Desejo do fundo do meu coração que todos encontrem alternativas para seguir em frente esta jornada que, mesmo com este transtorno, que nos deixa cambaleantes, ainda é uma jornada dentro dos desígnios de Deus.
De minha parte, tive que abrir mão de planos e até de meu trabalho (neste blog há uma mensagem de despedida à empresa da qual mantinha vínculo).
Acredito que tudo passa isto também passará.
Agora crio bonecas, as Clarinhas, puras e amorosas.
            As clarinhas saíram de meu íntimo, porque me sinto mais segura e capaz, enxergo mais ‘às claras’; maior nitidez e compreensão com meu problema e o mundo que me rodeia. Daí, minhas bonecas serem as Clarinhas, homenagem a mim mesma, por estar superando.
Os Sapos e as Clarinhas já fazem parte da minha acentuada melhora. A família feliz (os sapos reunidos), como costumo falar, representam para mim, a cebola que descasquei, e as Clarinhas são a pura esperança de um amanhã melhor, tanto que seus rostinhos de bonecas é o que vai em meu coração.
Toda esta graça é obtida através da família que possuo, ao marido maravilhoso e uma mãe compreensiva, juntamente com um bom suporte. Formando assim, o alicerce que a mão divina me ofertou.
Procuro viver a vida da melhor maneira possível, tentando driblar este pós-traumático; aprendendo a sobreviver nesta selva, onde procuro estar preparada para compreender o que este mundo oferece, embora eu deva respeitar meus limites, adaptando-me dentro do meu próprio contexto de ter vivido traumas, apegando-me a todas as capacidades de criar e mostrar que isto é uma etapa, apesar de enraizada, mas que pode ser trabalhada para novos começos.